sexta-feira, 9 de outubro de 2009

João Paulo - Fandango




JOÃO PAULO
Caldas da Rainha, Carvalhal Benfeito, Casal Valinho – 1983

"Foi nado e criado nesta freguesia de Carvalhal Benfeito, é casado, teve cinco filhos e actualmente (1983) está reformado por doença, com 64 anos de idade. Nasceu em
1919, sabe ler, embora não tenha frequentado a escola, e não sabe música.
Aprendeu a tocar harmónica de boca, a que chama «sanfona», aos seis anos. Desde essa tenra idade que animava bailes e noitadas numa taberna das Mestras, desta freguesia de Carvalhal Benfeito, cujos donos lhe ofereceram, para o efeito, duas «sanfonas». A taberna tinha, anexa, casa de bailes e estes realizavam-se aos domingos à tarde, com grande afluência de moças. Por ser pequenino, tocava em cima de uma mesa e, por ser um pouco envergonhado ou por outro motivo que não recorda, tocava com os olhos fechados, o que lhe valeu a alcunha de «Ceguinho da Luz», referência ao célebre cego-
-tocador de acordeão que era oriundo da freguesia de Luz, concelho de Tavira, e que fazia digressões demoradas pela Estremadura, como já referimos.
Gravámo-lo a tocar bandolim, instrumento que só aprendeu durante a sua tropa em Lisboa, onde começou a dar os primeiros bailes com este instrumento, inserido em tunas, ao que deduzimos das informações.
Depois de vir da tropa, sempre viveu na freguesia de Carvalhal Benfeito, trabalhando no campo como jornaleiro. Boa parte da sua economia doméstica era sustentada com o que ganhava a tocar bandolim pelos bailes das aldeias. Tocava habitualmente acompa- nhado por violão (tal como o gravámos), ou por concertina / harmónio, actuando em aldeias dos concelhos de Torres Vedras a Caldas da Rainha, passando por Cadaval e Bombarral. Pagavam-lhe em dinheiro e, além disso, a organização do «balho», geralmente a mocidade, suportava também a multa que era necessário pagar à GNR, «por
o tocador não ser encartado».
De todos os tocadores que conhecemos,
é dos que mais fez profissão da música, embora, claro, não a tempo inteiro. Dedicou-se, efectivamente, à animação de bailes e cobriu, nesta actividade, uma grande área geográfica, que não é normal estes tocadores sedentários atingirem. Deixou, porém, de tocar nestes moldes há cerca de dez anos, por força de trombose que o acometeu e que o deixou ligeiramente diminuído. Esta diminuição não
o impede, ainda assim, de tocar nos ranchos folclóricos das terras vizinhas que o convi- dam, como é o caso do de Trabalhias e do de Santa Catarina.
Gravámos do seu bandolim as seguintes modas: «Fandango», «Verde-Gaio», «Valsa de Dois Passos» e «Contradança»."

- SARDINHA, José Alberto, LOPES GRAÇA, Fernando, Tradições musicais da estremadura, Tradisom, 2000.
-
www.culturaviva.com.pt/textos/rui%20matoso/Ecomuseu_2.pdf

Sem comentários: